Campos do Jordão

Apesar dos elementos “importados” do inverno no Hemisfério Norte, como a arquitetura alpina, as árvores de plátano e a inescapável fondue, Campos do Jordão tem personalidade própria. Quem visita a cidade encontra hotelaria e gastronomia de respeito, prontas para atender ao padrão de exigência paulistano, e paisagens que fazem bonito diante de outros destinos de montanha pelo mundo.

Muitos visitantes chegam em busca da badalação de uma estação de esqui europeia – e na alta temporada possivelmente encontram –, mas quem procura bons programas culturais e em meio a natureza, seja em família ou a dois, também desce a serra satisfeito.

No inverno, o movimento é intenso e se concentra em Capivari, onde inúmeras lojas de malhas e chocolates servem de cenário para o vaivém. À noite, a disputa é por mesas bem-posicionadas para ver e ser visto tomando cerveja ou dividindo uma fondue. Especialmente em julho, visitar Campos pode ser desafiador: a cidade costuma lotar e as diárias sobem bastante. Vá apenas se estiver em busca do fervo ou for entusiasta do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, um dos mais prestigiados eventos de música erudita do país (a edição de 2020 foi adiada e ainda não tem data para ocorrer). No resto do ano, embora menos intenso, o friozinho continua garantido, já que Campos do Jordão é o núcleo urbano mais alto do país, a 1 628 metros.

QUANDO IR

A alta temporada dá as caras na Páscoa e segue forte até o fim de julho, época do Festival Internacional de Inverno. O valor das diárias podem mais que dobrar nesse período e a ocupação costuma ser inversamente proporcional ao termômetro – quanto mais frio, mais lotadas as hospedagens. Fora do inverno, Campos é um destino mais viável e menos inflacionado, ainda que algumas atrações e restaurantes possam fechar no início da semana.

COMO CHEGAR

De São Paulo, pegue o sistema Ayrton Senna-Carvalho Pinto (SP-070) e siga pela Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-123). Quem chega do Rio pega a mesma estrada a partir da saída 117 da Via Dutra (BR-116). A SP-123 é bem-conservada e tem bonita vista para um vale (há um mirante no km 44, sentido Taubaté). A Pássaro Marron faz o trajeto de três horas de ônibus entre São Paulo e Campos diariamente partindo do Terminal Rodoviário Tietê (consulte os horários no site).

COMO CIRCULAR

O carro é a forma mais viável de conhecer Campos, embora na alta temporada o trânsito e a batalha por uma vaga façam parte do pacote. São 6 km pela Avenida Januário Miráglia entre o portal da cidade e o centrinho turístico do Capivari. Por ali, é melhor circular a pé. O carro volta a ser útil para visitar as atrações mais afastadas, como o Palácio Boa Vista e o Horto Florestal, e esticar até a vizinha Santo Antônio do Pinhal. Para quem vem de ônibus, é melhor se hospedar perto de Capivari. Motoristas de aplicativo como Uber ainda são raros.

Confira abaixo um vídeo do vlog Num Pulo, do casal Paula e Daniel, com dicas de passeios para se fazer na cidade gastando pouco:

O QUE FAZER

Bater perna e compras

Atração mais icônica de Campos do Jordão, o centrinho turístico da Vila Capivari concentra lojas, bares, cafés, galerias e restaurantes, muitos instalados em construções de estilo alpino, nas ruas Djalma Forjaz e Dr. Vítor Godinho, Avenida Macedo Soares e Praça São Benedito. Mas a fama tem seu preço: estacionar por aqui pode ser um tormento (tanto na rua, com Zona Azul, ou nos estacionamentos); vale tentar uma vaga nas avenidas Emílio Ribas e Antônio Nicola Padula.

Praticamente todas as lojas de chocolates e malhas estão em Capivari. Para comprar bombons e barrinhas, ou ainda fazer uma pausa para o chocolate quente, aposte na Bruno Alves Chocolatier e nas tradicionais Montanhês e Araucária. No Alto da Boa Vista, mais afastado, fica o Empório Baronesa, que produz geleias a partir do cultivo próprio de frutas vermelhas.

Outro comércio com a cara de Campos, as malharias colorem as vitrines de Capivari: a Lunik tem modelagens mais modernas, enquanto a Villa Inglesa foca em coletes e cardigãs. As barracas do Pico do Itapeva e as lojas da Avenida Dr. Emílio Lang Jr. também são pontos de venda populares.

Campos cultural

Engana-se quem pensa que a programação cultural se resume ao Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, considerado o maior festival de música clássica da América Latina. Aliás, seu principal palco, o Auditório Claudio Santoro, divide a área verde com o Museu Felícia Leirner, com 90 esculturas de bronze ou cimento a céu aberto da artista polonesa. Entre as obras, o mirante natural descortina uma bela vista para a Pedra do Baú e o pôr do sol.

A cidade também sedia atrações como o Palácio Boa Vista, residência de inverno do governador de São Paulo, decorado com obras de modernistas como Tarsila do Amaral e Candido Portinari, além de mobiliário barroco e imagens sacras (a visita guiada dura meia hora). No bairro do Jaguaribe, a Casa da Xilogravura é uma joia cultural da cidade. O museu, dedicado à técnica em que a madeira entalhada serve de matriz para a impressão, reúne mais de 400 obras de artistas brasileiros e estrangeiros. Com sorte, a visita pode ser guiada pelo idealizador do projeto, o professor Antônio Costella. Para encerrar o dia cultural, um recital de canto gregoriano é apresentado diariamente, às 17h45, pelas irmãs beneditinas no Mosteiro de São João. Elas mantêm ainda uma loja que vende pães, bolos, geleias e objetos sacros (ligue antes para confirmar).

Aventura na montanha

Cartão-postal da região, a Pedra do Baú (no município vizinho de São Bento do Sapucaí), é um desafio a ser vencido com guia e algum preparo físico. A agência Altus Turismo promove a subida a 1 950 m, uma caminhada de uma hora seguida por 300 degraus (grampos de ferro presos na pedra). Há a opção de combinar a aventura com a Pedra Ana Chata, onde você sobe 40 m até uma gruta e desce fazendo rapel. A mesma empresa administra o Bosque do Silêncio, pertinho do centro, onde está o maior circuito de arvorismo da cidade, com 2 km de passarelas, e uma versão menor para crianças.

Parque Estadual Campos do Jordão, conhecido como Horto Florestal, é o mais antigo do estado. A enorme área verde permite caminhar entre as araucárias e fazer trilhas de nível fácil e médio (a empresa Zoom Aventura oferece atividades pagas à parte, como tirolesa, arvorismo e aluguel de bicicletas). O Tarundu é uma pedida para passar o dia com as crianças, com restaurante e atividades que vão de passeio a cavalo a escalada e patinação. O Aventura no Rancho tem proposta parecida e opções mais radicais, como rapel e uma tirolesa de 800 m. Algumas agências também organizam passeios de jipe e quadriciclo pela Serra da Mantiqueira.

Panorâmicas

Não é preciso subir a Pedra do Baú para contemplar as belas paisagens da Mantiqueira (e de outras regiões também). Com 28 jardins inspirados em 14 países, o parque Amantikir se estende por 60 000 metros quadrados com composições paisagísticas francesas, inglesas e japonesas, entre outras – devido ao potencial instagramável da atração, as fotos nos jardins são disputadas na alta temporada. Entrada somente em dinheiro.

A 2 035 m, o Pico do Itapeva é o ponto mais alto da região – se o tempo ajudar, dá para avistar 15 cidades do Vale do Paraíba. O local é destino de excursões e tem barracas de malhas nos fins de semana. No clássico teleférico (saída da praça próxima à Avenida Dr. Emílio Lang Jr., no Capivari), são percorridos 1 300 m em dez minutos até o topo do Morro do Elefante. Funciona todos os dias em julho; no resto do ano fecha às terça e quartas. Famoso por percorrer o trecho ferroviário mais alto do Brasil, a 1 743 m, o passeio de trem entre Campos do Jordão e Santo Antônio do Pinhal está inativo desde 2017. Enquanto a atração não reabre, a linha férrea funciona entre as estações Emílio Ribas e Abernéssia (meia hora, ida e volta) ou até o portal da cidade (1h, ida e volta). O site e as redes sociais da Estrada de Ferro Campos do Jordão, que opera as linhas, têm informações atualizadas.

ONDE COMER

Ir de fondue em uma das refeições parece inescapável, mas Campos reúne uma boa oferta de casas de outras especialidades – vale preparar o bolso. O prato suíço é servido em vários restaurantes da cidade, como os tradicionais Só Queijo e Matterhorn. No caminho do Horto Florestal, a cozinha internacional é representada pelo italiano Elio Cucina e pelo alemão Harry Pisek, que produz boas salsichas artesanais também vendidas para levar.

Como o nome sugere, a especialidade do Libertango, em Capivari, são cortes argentinos como o ojo de bife. Para provar pratos com truta, tem o Confraria do Sabor e o afastado Empório dos Mellos, que lembra um simpático armazém do interior. Alçado a atração turística, o Baden Baden é o bar mais famoso da cidade e também serve pratos alemães. A cervejaria da marca, na Vila Santa Cruz, pode ser visitada mediante agendamento.

Comidinhas

A pausa para um café ou chocolate quente cai bem durante o passeio e a maioria das chocolaterias de Capivari também serve as bebidas. Na Myriam Doces, brownies, bombas e tortas acompanham o cafezinho. No Palácio Boa Vista, o Café Palácio tem um deque com linda vista para as montanhas e cadeiras com mantinhas – no menu, strudel e bolos caseiros. Para um lanche, digamos, mais encorpado, o Pastelão do Maluf possui duas unidades na cidade e incluiu porções e sanduíches no cardápio, encabeçado pelos famosos pastéis de 32 cm. Quem não dispensa um sorvete artesanal encontra alento na Campos Gelato. 

SUGESTÃO DE ROTEIRO 

Um fim de semana bem programado dá conta do melhor de Campos, embora a cidade ofereça atrações para quem tem mais tempo. Ao chegar na sexta, os mais animados podem deixar o check-in para mais tarde e dar um pulo em Capivari.

No sábado, desde que você não tenha agendado subir a Pedra do Baú, tome o café da manhã com calma. O museu Casa da Xilogravura ou o Parque Estadual Campos do Jordão (leve roupas confortáveis se for praticar alguma atividade radical) podem abrir o dia. Na estrada que leva ao parque há vários restaurantes, como o Harry Pisek e o Elio Cucina. Famílias com crianças têm as atividades do Tarundu ou do Aventura no Rancho. À noite, mais Capivari: quem quiser escapar da clássica fondue pode jantar no argentino Libertango.

O domingo começa preguiçoso ou com esticadas até o Pico do Itapeva ou, ainda, com o almoço no Empório dos Mellos (dali compensa seguir direto para a casa). Com mais tempo, à tarde dá para rumar para o Palácio Boa Vista e fechar a viagem assistindo de camarote ao pôr do sol no Museu Felícia Leirner.

Aliança Férias Recomenda

Campos do Jordão é preparada para receber vários públicos mas, ainda assim, faz jus à fama de ser um destino caro. No inverno, os visitantes podem esperar a alta ocupação nos hotéis (e preços altos em relação a outros destinos) e uma cidade movimentada, inclusive com trânsito na área de Capivari. Presentes como bombons e malhas costumam ter preços salgados, assim como o chocolate quente e o chope no fim de tarde. Mas isso não significa uma viagem fadada à falência: para lembrancinhas mais populares, as alternativas são as barracas próximas ao teleférico e no Pico do Itapeva. No quesito alimentação, tomar um café caprichado na pousada e almoçar algo mais econômico (alguns restaurantes têm sugestões do dia que podem ser divididas) podem garantir um jantar especial. Boas atrações como o Palácio Boa Vista são gratuitas ou, no caso do Museu Felícia Leirner e da Casa da Xilogravura, têm ingressos acessíveis. E, claro, bater perna em Capivari, o programa mais clássico de Campos, não custa um centavo.

Fonte      https://viagemeturismo.abril.com.br/cidades/campos-do-jordao